sábado, 23 de outubro de 2010

Internacional

Dono de site defende dados sobre guerra


Segundo Julian Assange, a divulgação dos documentos traz a verdade escondida sobre os ataques

Londres. O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, defendeu, ontem, a divulgação de 400 mil documentos secretos sobre a guerra no Iraque.

Em entrevista coletiva em Londres, Assange afirmou que foram tomados todos os cuidados para que não haja risco para nenhum soldado envolvido nas operações no Iraque.

O governo americano voltou a criticar o site. Disse que os documentos não trazem novidades e que apenas podem gerar um sentimento de vingança, colocando em risco as tropas ocidentais que continuam no país.

"Os ataques à verdade começam antes do início de uma guerra e continuam mesmo depois que ela acaba", afirmou ele.

Segundo Assange, a divulgação dos documentos minimizam esses ataques à verdade.

Nos papéis há vários relatos de mortes e torturas cometidas pela polícia e pela Guarda Nacional Iraquianas contra seus próprios cidadãos.

Apesar de presenciar as atrocidades, soldados americanos apenas relatavam que não havia nada mais a investigar. Em alguns casos, eram comunicadas as autoridades iraquianas, muitas vezes as mesmas responsáveis pelas torturas.

"Isso transforma as tropas em cúmplices", afirmou Phil Shiner, da ONG Public Interest Lawyers, que também presente à coletiva.

Os documentos revelam também 15 mil mortes de civis a mais que os computados até agora por Organizações Não Governamentais que acompanham a guerra iraquiana.

Acredita-se que 66 mil civis foram mortos desde a invasão do país, em 2003.

O governo dos EUA diz que não há números sobre mortes de civis. "Os documentos trazem não apenas números, mas detalhes dos mortos. Isso é muito importante", disse John Sloboda, da Iraq Body Count.

A divulgação dos documentos é considerada o maior vazamento desse tipo de documento da história.

Em julho, o WikiLeaks já havia divulgado 91 mil documentos secretos sobre a guerra do Afeganistão.

Acredita-se que os dois vazamentos tenham a mesma fonte: um analista dissidente da inteligência do Exército americano, cuja identidade continua mantida sob sigilo.

Abusos e negligência

Segundo os documentos, desde a invasão americana no Iraque, em 2003, morreram mais de 100 mil iraquianos, dos quais cerca de 70 mil civis.

Os relatórios indicam que as forças americanas deixaram sem investigação centenas de denúncias de abusos, torturas e assassinatos por parte das milícias iraquianas, que em alguns casos são acusadas de chicotearem e queimarem pessoas.

Em um caso particular, os americanos acusam soldados do Iraque de cortarem os dedos e queimarem com ácido um dos presos. Há também a descrição da execução de dois presos que estavam com as mãos atadas.