quarta-feira, 30 de junho de 2010



Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre

Clarice Lispector


O espelho já havia denunciado… Está difícil de se encarar, não?!
O que você andou fazendo da sua vida ultimamente?
Arrependido?
Por quê?
Você não fez o que queria? Não estava decidido?
É, a vida apronta dessas coisas, não é mesmo?!
Você sabia o que queria, ou pelo menos o que não queria e depois que o vendaval passou ficou aquela sensação de que não era bem isso.
E a coragem de voltar atrás…
Mas será que é isso mesmo?
Você nunca sabe, né? Difícil saber o que se quer!
Principalmente, por que por vezes tem que se arriscar.


– Arriscar – que palavra horrível… E se o sofrimento aparecer?


Se o sofrimento aparecer… Sofra!


– Você deve estar de brincadeira. Prefiro ficar aqui sentado, com a porta trancada, com o telefone desligado, fazendo de conta que estou vivendo. Às vezes, saio apenas para transar e enganar alguém de que sou ótimo. Para me enganar que escolho. Não sei bem se para me enganar ou enganar ao outro.


É meu caro, o espelho é cruel. O espelho escancara! Os anos estão passando. Quantos pés de galinha no seu rosto que já foi tão bonito. Os cabelos, esses denunciam o quanto você abusou do que não devia. E o abdome tanquinho, cadê? Foi quase uma perda de identidade, não?
O que você tinha de melhor? Lembra? Faz tempo, não é?
O que tinha de melhor ficou para trás, nas insistentes performances de teimosia e de grosseria – sou dono da minha própria vida! Será?
Se era o dono, parece que não fez bons investimentos. Aliás, investiu no que mesmo? Não, não estou falando do dinheiro herdado no banco, estou falando de afeto. Sabe, aqueles sentimentos bobos que os mortais tem, tipo respeito, consideração, amizade, amor. Ah, já sei, amor é outra palavra proibida. Antigamente o amor era para o espelho e agora? Nem seu aliado, antigo aliado – espelho tem lhe dado o colo preciso.
Ah! Você está chorando? Chore, chore muito. Chore por suas presunções, seu sarcasmo, sua prepotência.

Agora já chega! Descobriu que é mortal! Humano como todo mundo?
Isso foi ótimo!
Passe um pano no espelho, faça um carinho.
Daqui a pouco o dia vai amanhecer. Terá um brilho novo no ar.
Saia de casa.
O presente e o futuro continuam lhe aguardando.
Vamos, lute!
Vamos, continue!
Viva!